sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Filme: "O menino selvagem"

A história do menino Victor reflete a questão histórica dos surdos, uma vez que o menino tornara-se selvagem porque fora abandonado pela família. Certamente os pais, ao observarem que havia algo de errado com o filho, o abandonaram a sua própria sorte.

Isto reforça o que o texto diz em relação à rejeição dos surdos pela sociedade, relegando a eles o direito a uma vida digna por não serem considerados “normais”. Ao mesmo tempo eram objeto de curiosidade, o que de fato é mostrado no filme, quando em algumas cenas pessoas aproveitam-se do menino, expondo-o aos curiosos em troca de dinheiro. No entanto, esta mesma curiosidade, foi o que levou o doutor Itard a interessar-se pelo caso do menino que fora abandonado e sobrevivera privado do convívio com humanos. Resolveu retirá-lo do colégio de surdos-mudos, pois nesse local sofria maus tratos por se tratar de um menino muito diferente dos demais. Diante disso, devido ao seu comportamento, o professor Pinel sugere que o menino seja idiota e por esse motivo deveria ser tratado em uma instituição para deficientes mentais. Por outro lado o médico Itard acredita que o comportamento atribuído ao menino é resultado do isolamento que sofreu em seus primeiros anos de vida, ou seja, isso fez com que Victor parecesse um doente mental. Dessa forma, propõe à administração que o deixem sob sua guarda para educá-lo. O doutor o leva para casa, contando com o apoio e dedicação de sua governanta na difícil tarefa de socializar o menino. Ela o recebe com muito carinho.
O médico Itard inicia sua investigação ensinando o menino a andar ereto, usar sapatos, vestir-se, enfim. O texto menciona a questão da oralidade, a qual é testada no filme quando o médico tenta ensinar Victor a pronunciar a palavra leite. Com isso, tenta fazer com que o menino ao sentir necessidade de algo, peça oralmente pronunciando o nome daquilo que deseja. Em um primeiro momento as tentativas foram um tanto frustradas, pois o menino continuava a gesticular para conseguir o que queria. Nos dias que seguiram, percebe-se que Itard utiliza o reforço positivo para conseguir ensinar o menino, recompensando-o logo após esse ter acertado o exercício proposto. Com estas atitudes, o médico acaba causando cansaço ao seu aluno, o qual reage de forma irritada. Victor passa a utilizar sua irritação para conseguir que seu professor pare de ensiná-lo quando não aprecia mais as atividades propostas. Itard, ao perceber isso, faz uso de reforço negativo para punir o menino quando esse não correspondia às suas expectativas. Entretanto percebe que ensiná-lo dessa forma não é correto, pois não está o ensinando a agir moralmente, ou seja, gostaria que Victor compreendesse que ele deveria agir corretamente sempre e não somente quando desejava alcançar algum objetivo. O médico compreendeu que podia treinar o menino para ouvir palavras, auxiliando-o a compreender algumas palavras pronunciadas por ele e sua governanta. As atividades seguintes trataram de verificar a capacidade cognitiva do menino, o qual deu muitas provas da sua inteligência, embora não pudesse ouvir. Portanto, surgia um novo passo na educação de surdos, onde essas pessoas poderiam usar a leitura labial, bem como o ato de gesticular para se fazer compreender, como BELL propunha.
Portanto, a história cultural nos diz muito em relação às pessoas surdas. É necessário utilizar a sensibilidade para aliar experiências visuais, identidades multifacetadas, diferenças culturais à língua de sinais como uma manifestação lingüística-cultural autêntica.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Cultura Surda e Comunidade Surda

Me situando um pouco no contexto de pessoas com surdez, realmente me questionei sobre quantas pessoas surdas conheço. Perdida em meus pensamentos, tentando lembrar se conhecia alguém com surdez percebi que nenhuma pessoa surda fazia ou faz parte do meu convívio. Em outro momento me perguntei por que. Será que me afastei de alguém que era surdo (a) ou será que nunca me aproximei? Lembrei que na época em que eu estava na escola, no Ensino Fundamental, tinha uma menina na escola chamada Maira, a qual era surda. Ela não era minha colega. Descobri que ela era surda devido aos comentários dos alunos, afinal, isso era considerado “anormal”. Tenho uma vaga lembrança sobre isso. Não sei como seria se eu tivesse que me comunicar com uma pessoa surda. Certamente eu usaria gestos, escrita, ou até mesmo pronunciaria as palavras vagarosamente, uma vez que sei que muitos surdos fazem leitura labial, enfim. Hoje, ao ler sobre cultura surda e comunidade surda, lembrei de uma criança de uns 2 anos de idade que freqüenta a escolinha da minha mãe. É um menino lindo, não é surdo, mas é filho de um pai surdo. O que me chamou a atenção foi a forma como ele se comunica com os demais coleguinhas. Ele emite sons diferentes, fazendo uso das mãos para se fazer compreender. Compreende a língua falada, mas se expressa com sons, certamente devido ao convívio com o pai. Achei isso muito interessante, ou seja, ele desenvolveu seus próprios mecanismos de comunicação, uma cultura própria baseada em sua forma de se comunicar com o mundo. Soube que ele foi colocado em uma escolinha para conseguir desenvolver a linguagem falada, o que evidenciou a preocupação da família. Segundo (SÁ, 2006), “[...] cultura surda, cultura esta geralmente desconhecida e ignorada, tida como uma cultura patológica, uma sub-cultura ou não-cultura. Estas representações geralmente embasam as perspectivas comuns nas quais os surdos são narrados de forma negativa, como se fossem menos que “normal” [...]”. Se considerarmos interpretações baseadas em uma cultura majoritária, a cultura surda ficaria em desvantagem, lembrando que os surdos são um grupo minoritário que luta para que sua cultura seja incluída como legítima no contexto social. Há uma pretensão em normalizar as culturas minoritárias a partir do uso de códigos da cultura “dominante”. Isso acaba por desprezar a cultura surda que se diferencia da cultura dos ouvintes por meio de valores, estilos e atitudes diferenciadas.
Vivi